1 ano de Vision Pro: A visão turva do futuro...

Há um ano, a Apple lançava o Vision Pro, o seu primeiro "computador espacial", baseado nas tecnologias de realidade aumentada e virtual, que prometia revolucionar a forma como interagimos com a tecnologia no dia a dia. Com um design futurista e funcionalidades inovadoras, o Vision Pro gerou grande expectativa no mercado. No entanto, passados 12 meses, o otimismo inicial parece ter dado lugar a uma certa visão turva do futuro.

O preço de 3500$ é, sem dúvida, um obstáculo significativo à massificação do Apple Vision Pro. Num mercado onde existem alternativas bem mais acessíveis, como o Meta Quest 3 (~500$), o Vision Pro torna-se um produto de luxo, inacessível à maioria dos consumidores. Mesmo para aqueles que têm disponibilidade financeira para adquirir o dispositivo, o custo elevado levanta questões sobre o seu valor real face às alternativas existentes.

Para além do preço, o Apple Vision Pro ainda não conseguiu demonstrar uma clara vantagem competitiva face aos concorrentes. Embora apresente algumas funcionalidades inovadoras, como o controlo por movimentos oculares e um design elegante, estas não se traduzem numa experiência suficientemente diferenciadora para justificar o preço altamente premium.

O design do Apple Vision Pro, embora seja visualmente apelativo, também tem sido alvo de críticas no que diz respeito à falta de conforto em utilização prolongada. O peso do headset e a pressão exercida na zona frontal da cabeça têm causado forte desconforto no seio dos primeiros utilizadores, limitando a sua aplicabilidade em cenários que exijam um uso contínuo. A necessidade de uma bateria externa ligada por um fio também compromete a experiência de utilização, tornando-o menos prático e móvel.

Adicionalmente, o Vision Pro falha em proporcionar uma experiência social. Não permite partilhar a experiência com outros, o que obriga cada utilizador a ter o seu próprio equipamento, tornando-se insustentável para a grande maioria.

Também me parece que o produto está mais focado na produtividade e não tanto na capacidade do utilizador usufruir dele como fonte de entretenimento. Talvez daí o próprio peso, para utilizações de trabalho mais ligeiras e não para, digamos, ver um filme do início ao fim. Acaba por ser uma experiência imersiva mas bastante solitária.

Outro ponto a salientar é a ausência da Apple Intelligence, sem qualquer notícia ou plano para chegar a este que é um dos produtos mais caros da Apple. A integração da sua plataforma de IA poderia revolucionar o produto, mas a concorrência parece estar a avançar mais rapidamente nesse aspeto.

Apesar das dificuldades iniciais descritas, é prematuro considerar o Vision Pro um fracasso. A tecnológica de Cupertino tem um historial de sucesso em transformar produtos com inícios modestos em verdadeiros fenómenos de mercado, como aconteceu com o iPod e até mesmo com o iPhone e o Apple Watch. É possível que, com o tempo, a Apple consiga reduzir o custo de produção do Vision Pro, tornando-o mais acessível a um público mais vasto - os rumores já dão conta deste interesse. O suporte a recursos diferenciados com a Apple Intelligence e o desenvolvimento de um ecossistema mais vasto de aplicações e jogos imersivos também poderão contribuir para a uma maior adoção pelo mercado.

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Em suma, este primeiro aniversário do Vision Pro é uma oportunidade para a Apple refletir sobre o caminho percorrido e os obstáculos que tem pela frente. Para tal, é preciso que a empresa da maçã saiba dar resposta às questões dos consumidores e demonstre o valor real do seu produto. Só o tempo dirá se o Apple Vision Pro se tornará um sucesso de massas ou se ficará relegado a um nicho de mercado de utilizadores entusiastas e com grande poder de compra, ou, ainda, se eventualmente será um projeto cancelado...