Celebra-se hoje o 16.º aniversário do anúncio do primeiro iPhone. Direi que "revolução" é uma palavra redutora para descrever o impacto do dia 9 de janeiro de 2007 (data da sua apresentação ao mundo). Sociologicamente falando, assistimos a uma mudança de paradigma.
A Apple definiu os novos padrões de design, funcionamento e interação de um telefone na vida quotidiana em sociedade, arrastando consigo milhares de empresas, developers, fabricantes e comercializadores de bens e de serviços para um novo nicho multimilionário.
Se a Internet foi uma revolução, o anúncio do iPhone em nada ficou atrás. A prova? Já ninguém se lembra, ou pelo menos não se quer lembrar, do que era a vida antes do iPhone e da concorrência com produtos semelhantes que dele emergiram. Quando já praticamente ninguém consegue viver sem um smartphone, mesmo até porque as próprias instituições governamentais, públicas e privadas o utilizam enquanto meio de identificação, pagamento, validação (exemplo: certificado de vacinação, bilhete de avião ou espetáculo ao vivo), etc., então está tudo dito.
E dezasseis anos volvidos, vamos apresentar-te aqui o que o iPhone não tinha na altura em que foi lançado. Interessante é sentir que a ausência destes próximos 10 pontos é hoje inimaginável. Mas na altura o topo do topo da tecnologia assoberba-nos quando comparando com telefones monocromáticos que, no limite, conseguiam enviar SMS's e MMS's.
App Store
Na época, o iPhone tinha, como aliás tem hoje, apps pré-instaladas, designadamente "Telefone", "Tempo", "Notas", "Calendário", "Fotos" e a "Calculadora". Não havia muito mais que se pudesse instalar oficialmente de modo nativo até julho de 2008, altura em que a App Store foi lançada, tal como disse acima, criando muitas oportunidades de negócio para developers. Mas ainda assim, de modo muito incipente. Veja-se no monstro colossal em que se tornou.
Copiar e colar
Para quem não sabe, o inventor do "Copy-Paste" foi Larry Tesler, falecido há três anos. Esta sempre uma funcionalidade dada como básica desde os tempos dos velhinhos PC dos anos 80 e 90. Estranho é saber que só a partir de 2009 é que o iPhone passou a gozar desta funcionalidade. Extraordinário é fazer "Copiar" no iPhone e "Colar" num Mac ou num iPad!
Câmara frontal
Eu disse novo paradigma? É verdade. Ao ponto de se ter cunhado uma nova expressão universal: "Selfie". Certo é que já existia esta prática desde tempos imemoriais com as máquinas convencionais de rolo. Mas, a partir de 2010, a introdução da câmara frontal no iPhone 4 constituiu mais um game-changer nas práticas do dia-a-dia. Para além de tirar as tais ditas selfies com total controlo do que está a focar, as videochamadas através do FaceTime passaram também a assumir um papel preponderante. Lembrar ainda que, por exemplo, em tempos de pandemia, a explosão de Live Streamings nas redes sociais não seria nem de perto nem de longe tão eficiente se não existissem as câmaras frontais. Depois com os bastões para selfie ou os suportes com LED para os streaming demonstram também o crescimento tentacular de empresas e negócios decorrentes da simples inclusão de mais uma câmara na parte da frente do telefone.
Gravação de vídeo
Já ter uma máquina fotográfica no telefone foi uma fusão extraordinária. Mas logo em 2007 a pergunta surgia: se isto fotografa como uma câmara, porque é não grava como uma? E pronto, chegado o ano de 2009, a Apple, como era óbvio, permitiu a gravação de vídeo com o lançamento do iPhone 3GS.
GPS
O Google Maps até podia estar incluído na instalação inicial do primeiro iPhone, mas quem quisesse andar de carro ou a pé com orientação assistida, tinha mesmo que adquirir um caríssimo GPS. E mais uma vez, qual canivete suíço! Passado um curto ano do seu lançamento, em 2008, a Apple incluiu o GPS no iPhone 3GS. Claro está que muito caminho havia a desbravar, mas o arranque foi muito rápido.
Papeis de parede para o ecrã
Habituados a mudar o papel de parede nos PCs e nos Mac desde tempos, também eles hoje imemoriais, tal funcionalidade só se tornou possível a partir do iOS 4 lançado em 2010, deixando para trás o impedimento de personalização até então existente nos iPhone.
Siri
Sim, a Siri também não estava no primeiro iPhone. Ela começou a preencher as nossas vidas a partir da introdução do iPhone 4S, sendo cada vez mais uma presença indispensável à medida que a vão apurando e melhorando a partir de Cupertino.
Touch ID ou Face ID
Autenticação biométrica. Para uns uma facilidade. Para outros uma invasão de privacidade. Nos Estados Unidos, apenas se podem recolher as impressões digitais em contexto de captura e aprisionamento de um cidadão que seja suspeito ou que tenha cometido um crime.
Certo é que a base de dados da Apple terá muitas mais do que as que se encontram nos registos da polícia. Caso contrário, haveria muitos criminosos. Mais ainda do que os que os EUA já têm. Com a agravante: para além disso, também já possuem dados extremamente detalhados dos nossos olhos e cara. E pior ainda: de todos os clientes Apple do mundo inteiro!
Bom... já se tornou hábito, mesmo até porque toda a concorrência já faz o mesmo nos telefones, tablets e computadores. O Touch ID surgiu em 2013 com o iPhone 5s, e o Face ID com o iPhone X em 2017.
Porta Lightning
A chegada do Lightning representou também o adeus àqueles incómodos cabos com uma ponta de 30 pinos dos primeiros iPhones e iPods. A Apple teve a excelente ideia (mais uma) de criar um cabo que se pode conectar seja em que posição for, mais pequeno e capaz de transmitir os dados para o computador mais rapidamente, foi concretizada aquando do lançamento do iPhone 5 em 2012.
Retina Display
Surgiu em 2010 no iPhone 4. Mais um game-changer. De repente, o que já parecia bem passou a parecer infinitamente melhor. Com o quádruplo dos píxeis do iPhone original, é quase como hoje comparar-se uma televisão 8K com uma simples HD.
Dezasseis anos depois
Listar toda a evolução do iPhone é difícil... com tanto que poderia ainda ter sido acrescentado aqui. O facto é que a Apple, por muito que nos tenha vindo a desiludir com ligeiras alterações ao longo dos últimos anos, só o faz porque nos habituou mal.
Habituou-nos à espectacularidade. Ao constante wow-factor a cada lançamento. E, claro, com a normalização dos smartphones, toda uma concorrência cada vez maior e melhor, torna-se cada vez mais complicado revolucionar a cada lançamento. Ainda assim... ainda assim é preciso fazer zoom out. Sair do conjuntural e observar o estrutural. E que mudanças. Que gigantescas mudanças em dezasseis anos.
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