Burlas com Apple Pay estão a acontecer em Portugal
Os meios eletrónicos de gestão de finanças, contas bancárias e pagamentos existem para facilitar as nossas vidas, e na esmagadora maioria das vezes conseguem cumprir essa premissa com sucesso. Contudo, há um lado, de certa forma, obscuro, que reside na ocorrência de burlas e golpes com vítimas diversas, que culminam com prejuízos que podem ascender aos milhares de euros...
Foi um destes casos que veio agora a público, envolvendo o método de pagamentos sem fios da maçã, o Apple Pay. Para quem não conhece, e de forma resumida, esta funcionalidade permite que sejam adicionados os nossos cartões bancários a uma espécie de carteira virtual nos nossos iPhones, sendo que posteriormente estes últimos podem ser utilizados para efetuar pagamentos em terminais eletrónicos através de NFC. Prático, sem dúvida.
No entanto, esta praticidade pode cair por terra e transformar-se num pesadelo, como pode testemunhar a vítima mencionada numa recente reportagem da TVI, que perdeu mais de 44 mil euros em menos de 48 horas...
Sucintamente, Sónia Pina conta a esta estação televisiva que no passado dia 6 de março deu por falta de 28 mil euros na conta bancária da sua empresa, sediada no Bankinter. Isto levou ao cancelamento do cartão em questão, contudo os movimentos fraudulentos não pararam, e no dia seguinte desapareceram mais 16 mil euros. O fecho integral da conta foi a melhor solução encontrada, mas nesse momento já estavam somados mais de 46 movimentos alheios à sua titular...
Por esta altura, Sónia lembrou-se de verificar os seus emails e mensagens, em busca de algo suspeito, e deparou-se com uma mensagem recebida algures no final de fevereiro, em que podia ler-se que o cartão em questão já estava pronto para ser utilizado com o Apple Pay. Ora, o problema é que Sónia nunca tinha feito tal configuração, e muito menos utilizado a aplicação Apple Pay alguma vez na vida...
Convém esclarecer por esta altura que, de forma a associar um cartão de crédito ou débito ao Apple Pay, é necessário o número do mesmo e o código de segurança presente no verso. Para além disso, e para garantir a segurança da transação, durante o processo o banco envia uma mensagem escrita para o cliente com um código de confirmação. A vítima garante que nunca fez nada que se assemelhasse a isso...
Segundo a Deco, na voz da sua jurista, estão a ser recebidas algumas reclamações relacionadas com situações semelhantes, em que o sistema de autenticação é ultrapassado... Isto é muito preocupante, e põe em causa todo um sistema supostamente confiável, tornando-o am algo potencialmente falível.
A forma mais comum dos amigos do alheio terem acesso aos códigos de confirmação é através de chamadas telefónicas feitas para as vítimas, nas quais os indivíduos mal intencionados se fazem passar por trabalhadores do banco, de seguradoras, ou de outras entidades credíveis. Além disso, há relatos de pessoas que trabalham nos serviços de telecomunicações que estão envolvidas nestes esquemas, e que interceptam as mensagens com os códigos de segurança necessários. O download de aplicações pouco fidedignas também põe em causa a segurança dos dados existentes nos nossos smartphones.
Nesta situação em específico, o Bankinter afasta de si a responsabilidade pela burla, mesmo sabendo que o seu sistema de alertas não despolotou nenhum aviso perante os movimentos efetuados, muitos deles seguidos e de montantes iguais.
O intuito deste texto é o de alertar os nossos leitores para os perigos da tecnologia, que muitas vezes superam os benefícios. Toda a informação sensível e potencialmente "interessante" para quem tem más intenções deve ser resguardada o mais possível, pois como se percebe as consequências poderão ser piores do que aquilo que, à primeira vista, se imaginaria.
Nunca devemos fornecer qualquer código em chamada, temos de suspeitar de mensagens recebidas com informações não solicitadas, e acima de tudo manter debaixo de olho todos os movimentos das nossas contas bancárias, de forma a bloquear imediatamente todas as movimentações ao primeiro sinal de que algo está a sair do carril.
Com isto não queremos causar o pânico nem voltar à idade da pedra, nada disso; contudo, apenas a nós cabe a responsabilidade de vigiar aquilo que é nosso, pois no dia em que delegarmos essa responsabilidade em mãos alheias perdemos o controlo sobre a nossa própria vida.