As grandes empresas de tecnologia, como Amazon, Google e Meta, foram acusadas de se envolver em comportamentos anticoncorrenciais e de violar os direitos dos trabalhadores. Mas a questão que importa é: Como é que as pequenas empresas do mesmo setor, podem combater as práticas abusivas das gigantes tecnológicas?
David vs. Golias: como pequenas empresas podem combater as gigantes tecnológicas
Na Web Summit 2024, em Lisboa, William Fitzgerald, fundador da The Worker Agency, partilhou uma visão de extrema importância para as pequenas empresas que lutam contra o domínio das gigantes tecnológicas. Qual a sua mensagem? Pegando na história bíblica em que o David conseguiu vencer o Golias, William afirmou que para que tal seja conseguido, é necessário uma boa estratégia, persistência e uma compreensão profunda do campo de batalha.
William Fitzgerald defende a importância de um "mapeamento de poder". Identificar os verdadeiros decisores, aqueles que podem efetivamente influenciar a mudança, é fator muito importante. Muitas vezes, estes não são os CEOs das grandes empresas, mas sim os legisladores e reguladores que ditam as regras do jogo.
"Não percas tempo a tentar convencer a Apple", aconselha Fitzgerald. Em vez disso, foca-te nos órgãos reguladores como a Comissão Europeia ou a FTC nos EUA. São eles que podem criar um ambiente competitivo mais justo, onde todas as empresas, grandes e pequenas, tenham a oportunidade de prosperar.
Para influenciar estes decisores, é preciso compreender os seus valores e motivações. O que é que os move? Quais são as suas prioridades? A resposta, muitas vezes, reside na sua base eleitoral e na necessidade de manter o apoio público.
Mas a estratégia não se resume a identificar os alvos certos. A persistência é fundamental. Fitzgerald enfatiza a necessidade de um compromisso a longo prazo. Uma única campanha ou ciclo de notícias negativo não é suficiente para abalar as gigantes tecnológicas. É preciso manter a pressão constante, com criatividade e agilidade, aproveitando as oportunidades que surgem ao longo do caminho.
Ainda de acordo com William, há outro ponto bastante importante que é evitar a armadilha da dependência da boa vontade das grandes empresas. Apresentar argumentos lógicos e dados convincentes pode ser um exercício inútil. As gigantes tecnológicas têm os seus próprios interesses, focados no lucro e no valor para os acionistas.
Em vez de tentar conquistá-las, Fitzgerald sugere que as pequenas empresas invistam o seu tempo a construir coligações e fortalecer a sua voz coletiva. Unir forças com outras startups que enfrentam os mesmos desafios amplifica o impacto e aumenta a pressão sobre os decisores.
Como conseguir resultados práticos?
No que toca a táticas, Fitzgerald defende uma abordagem mais diversificada, e por vezes considerada pouco ortodoxa, mas que poderá funcionar:
- Protestos: Mobilizar a opinião pública e chamar a atenção para a causa.
- Inquéritos: Recolher dados e evidências verdadeiras que demonstrem a dimensão do problema.
- Alianças estratégicas: Unir forças com outros grupos que se encontram na mesma situação, incluindo organizações de defesa dos direitos humanos, e académicos.
- Financiamento de estudos independentes: Contrariar a influência dos estudos encomendados pelas grandes empresas, produzindo pesquisas que exponham a realidade do mercado.
Fitzgerald destaca o caso da Meta/Facebook e da OpenAI, acusadas de exploração laboral no Quénia, como um exemplo da importância da ação coletiva e da pressão pública. Este caso demonstra como a união de trabalhadores, advogados e líderes empresariais com preocupações éticas pode desafiar o poder das gigantes tecnológicas e defender os direitos humanos.
Em suma, a luta contra as gigantes tecnológicas é um grande desafio, mas não é impossível. Com estratégia, persistência, criatividade e uma forte coligação, as pequenas empresas podem conquistar o seu espaço e construir um futuro mais justo e equilibrado no mundo da tecnologia.
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