O Canto do Cisne (em inglês, Swan Song) é uma narrativa de ficção científica ambientada num futuro próximo, que levanta uma série de questões relacionadas com a identidade, a integridade e a mágoa de perder alguém. Qual é a definição do ser humano e que características possui que permitem distingui-lo dos demais? Haverá mais características para além da aparência, a forma de agir, o olhar e a inteligência que permitam classificar uma pessoa de única? Que papel têm as memórias e a “alma” nesta singularidade? São muitas as questões e temas retratados em O Canto do Cisne - cuja realização e argumento são da responsabilidade do jovem irlandês Benjamin Cleary -, sendo que para grande parte delas poderemos nunca vir a ter resposta.
A trama deste filme centra-se na vida do protagonista Cameron Turner (Mahershala Ali), a quem foi diagnosticado uma doença terminal. Com poucos dias para viver, Cameron enfrenta um dilema existencial complexo, numa altura em que o seu casamento passa por algumas dificuldades e a sua esposa Poppy (Naomie Harris) lida com a segunda gravidez e a perda do irmão gémeo Andre (Nyasha Hatendi). Contactado pela Dra. Jo Scott (Glenn Close), responsável por uma empresa que desenvolve tecnologia de clonagem, Cameron toma conhecimento de uma solução inovadora que pode poupar a sua família da dor do luto. O protagonista deve decidir se esta proposta é razoável e se este ato (de egoísmo ou compaixão?) permite poupar a família de mais dor.
Para que este processo se realize, Cameron deve passar alguns dias na clínica com o objetivo de transitar todas as suas memórias e modo de ser para "Jack", o seu substituto. Se há algo que de facto impressiona na narrativa é que Cleary optou por não perder tempo com explicações e justificações que nada acrescentariam ao todo. Em vez disso, prefere explorar as paisagens e os cenários minimalistas da clínica e colocar os holofotes no desempenho ímpar dos atores, mais concretamente de Mahershala Ali, que desempenha simultaneamente Cameron e "Jack" (nome provisório do clone).
Cleary e a designer de produção Annie Beauchamp criaram um mundo completamente crível, com a tecnologia tão integrada na vida dos personagens que a determinada altura se torna fácil esquecer que ela não existe. As instalações da Dra. Scott, de um minimalismo impressionante, situam-se num ambiente remoto, espaçoso e cercado pela natureza, que convida o espectador a digladiar-se com todas as questões existenciais. Na clínica, há um outro paciente, interpretado por Awkwafina, que passou pelo mesmo dilema que Cameron. Tanto Ali como Awkwafina entregam um desempenho fora de série e interpretam os personagens originais e os doppelgängers apenas distintos o suficiente para que possamos notar a diferença e ainda assim acreditar na ideia de que os seus familiares serão incapazes de fazer o mesmo. Ali é sem sobra de dúvida o destaque neste filme, pela capacidade que teve de interpretar dois personagens, tão quietos e introspetivos por natureza. E, no entanto, ele é capaz de transmitir todas as emoções complicadas que ambos os Cameron sentem enquanto se tentam relacionar.
Em suma, O Canto do Cisne é um conto provocador e reflexivo, com passagens de contemplação e outras de profundos questionamentos, colocados em cena com o auxílio de uma tecnologia não muito distante da realidade e de uma estética limpa e minimalista. O desenrolar dos acontecimentos é lento e preguiçoso, mas permite assimilar as inquietações e questionamentos dos personagens, refletir com eles, e, em última instância, confirmar a importância de cada elemento introduzido ao longo das quase duas horas de filme.
Nota: 6/10
O Canto do Cisne (Swan Song - EUA, 17 de dezembro de 2021)
Duração: 116 min
Género: Drama, Ficção Científica
Realização: Benjamin Cleary
Argumento: Benjamin Cleary
Elenco: Mahershala Ali, Naomie Harris, Awkwafina, Glenn Close, Adam Beach, Nyasha Hatendi, Dax Rey
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