O que eu espero da WWDC? Sinceridade.
Marcus Mendes

O que eu espero da WWDC? Sinceridade.

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Quando o relógio bater 10h em Cupertino amanhã, dia 7 de junho, eu não espero que a Apple anuncie o novo iOS, nem o novo watchOS, nem o novo tvOS, macOS ou qualquer outro OS. Tampouco espero que ela apresente novos hardwares, fale sobre segurança, sobre privacidade, sobre meio ambiente ou sobre inclusão.

Eu não espero ver o Tim Cook dizer “good morning”, não espero ver o Craig Federighi fazer piada sobre o nome do próximo macOS, não espero filmagens aéreas cheias de priuetas e estrepolias pelo Apple Park, e não espero vídeos a falar sobre acessibilidade.

Não espero novos recursos de saúde para o Apple Watch, não espero melhorias para a Siri nem para o iMessage, e nem para o HomeKit. Eu não espero histórias muito bem-contadas sober o poder do ecossistema da Apple e sobre como tudo o que ela faz é em prol de um mundo melhor.

O que eu espero é que ela aproveite esta oportunidade para sinalizar que ela está a ouvir, e não apenas a falar.

Quando o relógio bater 10h em Cupertino amanhã, a Apple encontrará um clima bem diferente do que ela está acostumada a encontrar. Se nos últimos anos a WWDC serviu como uma grande celebração o trabalho dos desenvolvedores, os últimos meses mostraram que toda esta comoção, na verdade, estava mais próxima de um teatro do que de uma festa. Amanhã, ao contrário de braços abertos, a Apple encontrará braços cruzados e ouvidos atentos. Antentos, é claro, por qualquer sinal de que ainda há esperança para a volta do equilíbrio de poderes e de importância nesta relação que, durante 51 semanas por ano, acontece apenas por meio da App Store Connect e por e-mails de rejeição arbitrária de updates na App Store.

Amanhã, a Apple terá uma oportunidade de ouro para sinalizar que ela está, sim, disposta a compartilhar os frutos do trabalho dos desenvolvedores, ao invés de apenas celebrar o suor e as lágrimas de quem realmente faz a App Store funcionar e faturar os miliões que a Apple reporta aos acionistas a cada 90 dias.

O que eu quero muito do evento de amanhã é que, em meio às novidades do iOS, macOS e afins, a Apple passe de forma clara e inequívoca a mensagem de que ela aprendeu as lições dos últimos meses, e está disposta a repensar a forma como ela lida com os desenvolvedores.

A parte cínica em mim pensa que nada disso vai acontecer. A parte cínica em mim pensa que a Apple fará o que ela sempre faz em situações assim, e irá ignorar todo o constrangimento que ela própria tem causado com declarações do tipo “O Spotify só existe por nossa causa, então eles não deveriam reclamar da comissão da App Store”. Estou parafraseando, é claro, mas o sentido é exatamente esse. Preocupa-me aquele estudo que ela divulgou há alguns dias, repleto de números chamativos que reforçam o ponto de que a Apple, e só ela, possibilita negócios e salários que de outra forma não existiriam, e por isso é absurdo que alguém ouse reclamar da situação.

Mas os desenvolvedores estão a ousar, sim. E finalmente.

Quando o relógio bater 10h em Cupertino amanhã, tudo o que eu quero é ver uma mão estendida, ainda que somente pela TV. Quero, como eu disse na semana passada, que a Apple sinalize que ela está pronta para voltar a pensar diferente.

Mas se além disso ela resolver melhorar a Siri também, melhor. Eu aceito também.

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Crónicas