Eu não sei quanto a vocês, mas a palavra que mais me ocorreu enquanto assistia à keynote da WWDC foi “finalmente!”. Olhando de modo geral para os anúncios feitos pela empresa, fica evidente como ela tirou o último ano para voltar a dar mais foco na evolução do iOS, enquanto os outros sistemas ganharam (boas) novidades iterativas, e que fortalecem ainda mais o ecossistema da Apple como algo que, francamente, nenhuma outra empresa consegue chegar perto.
Por outro lado, quando mostrei o novo ecrã de bloqueio do iOS 16 à minha namorada, ela disse “Nossa, virou Samsung agora?”
“Ah, está meio Samsung… a Samsung também está meio Apple… no fim, todos estão a evoluir pelo mesmo caminho”, respondi. Olhando para o iOS 16, essa comparação é mesmo inegável. Mais do que isso, as funções de customização do ecrã de bloqueio do sistema são mais um item na lista cada vez maior de novidades da Apple que há tempos os clientes vinham a pedir, mas que ela se recusava a entregar. Outra novidade assim é o álbum de partilha familiar. Mais uma é a (ainda tímida) nova funcionalidade de janelas do iPadOS, bem como um suporte mais decente a monitores externos. Quando olharmos para trás, acho que pensaremos nesta WWDC como a que tirou muitos itens que há muitos anos estavam na wishlist de um grande número de utilizadores.
Mas nem só de concessões de longa data foi feita a keynote. Uma novidade que deve ter despertado o interesse de poucos, mas que para nós que acompanhamos o mundo da Apple marca o primeiro grande anúncio do Project Titan foi a nova versão do CarPlay. Enquanto a sua primeira encarnação não passava de um espelhamento customizado das funcionalidades mais apropriadas para interação ao volante, essa nova versão entrega tudo o que eu sempre disse que a Apple deveria fazer neste projeto automotivo, que é oferecer uma experiência Apple ao carro dos clientes, assim como a Apple TV – sequer citada no evento – faz com os televisores. É claro que esta funcionalidade levará muitos anos para de facto passar a fazer parte do dia a dia de todos nós, mas esse dia chegará. (Já o carro feito pela própria Apple, esse eu ainda duvido que algum dia verá a luz do dia).
Já uma coisa que vi ser criticada ao longo da últimas 24 horas, foi o facto da Apple ter incluído o segmento do Apple Pay Later no evento. No Twitter, alguns comentários davam como desconexo o segmento sobre a funcionalidade no meio dos outros anúncios. Mas engana-se quem realmente acha que esse tipo de coisa é desconexa. Na verdade, esse anúncio encapsula muito bem qual é o verdadeiro modus operandi atual da Apple: fortalecer o seu ecossistema, e rentabilizar essa ligação com os utilizadores. Olhando sob este prisma, não é mistério nenhum que o Apple Pay Later tenha sido anunciado junto de inúmeras funcionalidades que funcionam de forma integrada entre o iOS, macOS, iPadOS e etc. Enquanto a Apple nos oferece essa integração, ela vai faturando pelas beiradas. E não há nada de errado com isso.
Aliás, ainda sobre a falácia de que a WWDC é um evento voltado para desenvolvedores, que tal estes novos Macs com M2, hein? Ao comparar o seu desemprenho com os já insuperáveis chips M1, a Apple mostrou que sabe que está tão à frente da concorrência em termos de desempenho unido a eficiência energética, que agora ela só concorre realmente consigo mesma para que este tipo de comparação faça algum tipo de sentido.
Já uma coisa que não me desce nestes eventos da Apple é a forma cínica e forçada com a qual ela fala sobre a relação com os desenvolvedores. Todo o segmento inicial da apresentação não passou de um grande teatro para a Apple fortalecer os argumentos dela nas brigas anticompetitivas que ela vem enfrentando ao redor do mundo. Ainda que com sob a fala tranquila e floreada de Tim Cook, a mensagem da Apple é clara: “os desenvolvedores devem-nos tudo, e não o contrário”. Muito mais do que o Apple Pay Later, isso sim pareceu bastante forçado e inapropriado para não apenas esta, mas as últimas edições da WWDC.
Pois bem. Mas e quanto ao headset imersivo, e toda aquela conversa de astrónomos que eu mencionei no meu último texto? Bem, também a exemplo das últimas edições da WWDC, só me resta pensar mais uma vez “quem sabe no ano que vem?”
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