Eu não sei quanto a ti, mas de todas as notícias do mundo da tecnologia que li esta semana (e considera aqui o facto de eu ler MUITAS notícias todos os dias para fazer o alinhamento do Loop Matinal), a que mais me surpreendeu foi a do anúncio da saída de Jeff Bezos do cargo de CEO da Amazon.
Na realidade, surpresa não define exatamente a sensação. Ela foi uma mistura de surpresa e de uma certa tristeza, porque me dei conta do facto de que o dia em que Bezos de facto encerrar o seu último expediente do cargo máximo da Amazon, em algum momento do terceiro trimestre de 2021, ele também estará a encerrar o último capítulo da história moderna da tecnologia.
Parece dramático, mas pensa comigo: Apple, Microsoft, Google e Amazon. As quatro empresas que construíram todo o cenário do mundo tecnológico atual, passarão a funcionar sem os seus fundadores. O bastão está a ser passado para a próxima geração (ou talvez eu deva dizer a geração atual), e a tecnologia como a conhecemos será apenas uma história a ser contada entre pais e filhos, ou talvez em verbetes da Wikipedia.
Não me entendas mal. É claro que vejo estas mudanças como algo positivo. A renovação traz novas perspectivas, novas possibilidades, e é claro que é o caminho natural de qualquer negócio longevo. No caso destas quatro empresas, todas parecem estar e evoluir dentro dos moldes estabelecidos pela cultura dos seus fundadores.
De certa forma é curioso colocar estas quatro empresas no mesmo balaio, já que a Microsoft e a Apple foram fundadas nos anos 70, enquanto a Amazon e a Google foram fundados na segunda metade da década de 90. Mas elas são, sim, equivalentes. O que chega a ser quase bonito observar é que a Apple e a Microsoft pavimentaram o caminho que permitiu a fundação e o sucesso da Google e da Amazon, e todas cresceram e coexistiram da melhor forma possível.
Uma coisa que chama à atenção em especial no caso de Jeff Bezos é justamente a surpresa de sua saída. Com Jobs, o mercado pode se preparar por alguns anos até à sua renúncia ao cargo de CEO em 2011. No caso de Bill Gates, por muito tempo se especulou que ele seria substituído por Steve Ballmer até ao anúncio em janeiro de 2000. Aliás, há menos de 1 ano Bill Gates anunciou que também estaria a deixar o painel da Microsoft, desligando-se por completo da companhia e encerrando a sua brilhante carreira corporativa. No caso de Sergei Brin e Larry Page, a história é complicada demais para tentar resumir aqui. Eles trocaram tantas vezes de cargo a meio a restruturações corporativas e mudanças de planos que, sinceramente, quando eles decidiram deixar por completo a Google (ou melhor, a Alphabet) em 2019, a reação geral do mercado foi: “De novo? Eles já não tinham feito isso?”
O que nos traz ao anúncio de Bezos nesta última semana. É bem verdade que nos últimos anos ele foi se descolando das atividades diárias da Amazon, passando a dedicar-se cada vez mais à Blue Origin, ao Washington Post e às suas iniciativas filantrópicas. Ao mesmo tempo, o seu futuro substituto, Andy Jassy, CEO da AWS, vinha a fazer um excelente trabalho de crescimento acelerado da divisão de nuvem da empresa, quase repetindo a trajetória meteórica da própria Amazon.
Mas mesmo estando à frente da Amazon a uma certa distância, foi ele que começou o negócio numa sala comercial não muito maior do que o quarto da minha casa, com “amazon.com” escrito todo torto com spray num papel colado (igualmente torto) na parede.
A saída de Jeff Bezos do cargo de CEO da Amazon encerra o ciclo em que os fundadores da história da tecnologia moderna deixam de ser protagonistas nesse jogo, e passam a ser objetos de estudo. Assim como Newton, Da Vinci, Einstein, Galilei e Copérnico mudaram o eixo da história e catapultaram a humanidade para um novo patamar de conhecimento, Jobs, Gates, Brin, Page e Bezos fizeram o mesmo, cada um a seu modo, permitindo que estas minhas palavras chegassem até ti neste domingo.
Sorte a nossa poder ter acompanhado a trajetória destes últimos de perto. Agora cabe a nós seguir em frente com o que eles nos deixaram.
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