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O Windows 11 não é o novo macOS. Mas poderia ser.
Marcus Mendes

O Windows 11 não é o novo macOS. Mas poderia ser.

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Durante o evento de anúncio do Windows 11, a Microsoft fez bastante força para transmitir uma ideia central, um conceito, para apresentar o novo sistema. E acho que dá para resumir esta ideia numa palavra: possibilidades.

É bem verdade que, depois do evento, parte dessa história acabou por cair por terra. Ela disse que a possibilidade da surpreendente isenção total da comissão da Windows Store não existirá para a categoria de jogos, e está a fazer a maior confusão com quais computadores terão a possibilidade de aproveitar o upgrade gratuito para a próxima grande versão do sistema.

Tirando estes (gigantescos) detalhes, ainda vejo com admiração o grande espectro das coisas que a Microsoft preparou para este que, durante o bastante atrapalhado reinado de Ballmer sobre o comando da empresa, foi a única razão da Microsoft existir.

Admiração, porque sob a liderança de Satya Nadella a Microsoft transformou na sua maior força o reconhecimento das fraquezas da companhia. Nos últimos anos a Microsoft admitiu derrota no mercado de smartphones (salvo alguns experiências natimortos como o Surface Duo.. ou Neo… um dos dois), percebeu que a principal concorrente da Cortana no mercado de assistentes virtuais era a Siri, com ambas a disputar ferrenhamente o título de assistente mais incompetente do mundo, e FINALMENTE teve a coragem de tirar o Windows do único holofote da empresa, para a sorte do Azure, do Office e até mesmo do Xbox.

O que eu admiro nestas atitudes não é o reconhecimento de que é melhor abandonar um projeto falido ao invés de seguir a insistir que um dia, talvez, quem sabe, ele dê certo. Admiro a humildade de olhar para os lados e propor parcerias para suprir essas necessidades que, internamente, não estão lá. Um exemplo disso, no Windows 11, é a parceria com a Amazon e com a Intel para levar aplicações de Android ao sistema. Esta obviamente foi a solução que a Microsoft encontrou para oferecer o que utilizadores da Apple terão no macOS. A diferença é que, enquanto a Apple faz os próprios processadores ARM, para os próprios computadores, rodando o próprio sistema de forma compatível com aplicativos da própria loja, a maioria destas peças está a faltam lá em Redmond.

A Microsoft está à mercê de fabricantes de PCs e laptops (daí o grande problema de compatibilidade com a nova versão, parecido com o problema de fragmentação do Android), está à mercê de fabricantes de processadores, que raramente trabalham de forma precisamente alinhada com os fabricantes de PCs e laptops, e está à mercê dos desenvolvedores que, convenhamos, não acordam todo dia e pensam “vou programar uma app para Windows, mudar o mundo e ficar rico!”

A parceria com a Amazon (que, é verdade, parece um plano B da parceria ideal que teria sido com a Play Store do Google) para levar apps de Android ao Windows 11 e a parceria com a Intel para juntar essas duas pontas e de facto fazer as apps rodarem são a sinalização da Microsoft de que ela está preparada para dividir o bolo e evoluir junto com os parceiros – e usuários! – ao invés de fazer a receita do zero num mercado em que seu principal concorrente já abriu uma confeitaria e faz bolos sozinho de forma automatizada e bastante rentável. Se isso não é admirável para uma empresa liderada por alguém que até hoje é motivo de piada por ter gargalhado com o facto do iPhone não ter um teclado físico, eu não sei o que é.

No entanto, quando comparo esta nova atitude da Microsoft com o que nós temos visto de Cupertino, percebo como a narrativa hoje em dia está completamente invertida quando falamos sobre as duas empresas.

Não falo dos produtos. Ainda vejo os Macs com M1 que em breve rodarão o macOS Monterey como produtos que estão anos-luz à frente de qualquer Surface rodando uma versão do Windows 11 que sequer sabe o que é o ecrã azul da morte. Falo sobre atitude. Falo sobre a intenção sincera de trazer ao mundo um sistema tão repleto de possibilidades, que chega junto da certeza de que algo incrível será criado, possibilitado apenas por aquele sistema.

Falo sobre a Microsoft de 2021, mas também falo sobre a Apple de outrora que, quando estava numa desconfortável posição de vulnerabilidade, também reconheceu que a única alternativa para seguir em frente seria buscar uma parceria (e um investimento) num dos lugares mais improváveis do mundo. Naquela oportunidade, em 1997, a Microsoft investiu US$ 150 milhões de dólares na Apple e salvou-a da falência. Hoje, a Microsoft investe em si mesma nos campos em que ela sabe que tem competência, e estende ambas mãos: uma para pedir ajuda de empresas parcerias, e outra para os desenvolvedores que, se não forem ficar ricos, enfim têm um motivo para acordar e pensa “vou programar uma app para Windows e mudar o mundo!”

Deu saudade de sentir isso com o macOS. Pra mim também.

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Crónicas