Precisamos mesmo de um novo Apple Watch todos os anos?

Adoro o Apple Watch. Desde o seu lançamento, a 24 de abril de 2015, que nunca passei um dia sequer sem o utilizar. Graças ao Apple Watch, hoje em dia entendo melhor o meu sono (que posso comprovar analisando os gráficos do AutoSleep), sou mais saudável (que posso comprovar analisando os gráficos no Pedometer++, app de Saúde do iOS, HeartWatch e tantos outros), e sou mais cuidadoso com o meu coração (que posso comprovar… bem… pelo facto de estar vivo, depois do Apple Watch me ter alertado sobre um episódio de Fibrilhação Auricular em 2020).

Se tivesse atualizado o meu Apple Watch – ainda uso um Series 4 – também poderia estar melhor informado sobre o nível de oxigenação no sangue, além de poder contar com novas funcionalidades como o ecrã sempre ativo, melhor desempenho, bateria mais eficiente e, claro, um ecrã um pouco maior. E percebe: para tudo isto, estamos a falar a respeito de um relógio, algo que há 10 anos seria inimaginável. Mas é claro que hoje em dia o Apple Watch é tanto um relógio quanto o iPhone é um telefone. Ambos extrapolaram o seu formato original, e são apenas computadores feitos nos moldes dos produtos que eles, para todos os efeitos, substituíram.

Mas vê bem: apesar de ser um absoluto aficionado por tecnologia, AINDA utilizo um Apple Watch lançado em 2018, o mesmo ano de lançamento do iPhone XS. Hoje em dia, tenho um iPhone 13, mas o relógio continua o mesmo. O motivo? Bom, na verdade são alguns. Um deles é porque acho a cor do meu Apple Watch Series 4 muito mais bonita do que qualquer outra cor que tenha sido lançada depois (é o modelo rosa dourado). Mas facto é que se as versões seguintes do Apple Watch tivessem vindo com algo absolutamente indispensável, eu teria aberto mão da questão estética e teria feito a troca. E acho que está aí a grande questão do Apple Watch hoje em dia. Nem mesmo a Apple sabe quais melhorias técnicas ela pode colocar na atualização anual de hardware do Apple Watch, o que me faz questionar se o Apple Watch será o primeiro grande produto da Apple a começar a pular atualizações anuais de hardware.

Tomemos os últimos anos como exemplo. O Apple Watch Series 7 ganhou um ligeiro redesenho no chassis, mas o processador seguiu rigorosamente igual ao do Series 6. A Apple até buscou alguma tecnicalidade para chamá-lo de S7, ao invés de mantê-lo sob o nome S6, mas a verdade é que, na prática, os chips são idênticos. Já para o futuro Apple Watch Series 8, a ser lançado (provavelmente) neste ano, os rumores são de que o relógio contará com o mesmo processador do Series 7, talvez buscando em alguma tecnicalidade um motivo suficiente para chamá-lo de S8, apesar de tecnicamente ser o mesmo chip de há 2 anos. Já para os outros rumores a respeito do novo modelo, diz-se por aí que a principal novidade será um termómetro, caso a Apple consiga fazer os algoritmos funcionarem suficientemente bem a tempo do lançamento do dispositivo.

O que me leva a perguntar: porquê continuar a lançar um Apple Watch novo todos os anos? O produto está anos-luz à frente da concorrência, ele domina com folga as vendas de todo o segmento de relógios inteligentes, e pelo segundo ano consecutivo parece-me que a principal novidade a respeito da nova versão será… o nome. O que não significa que não há espaço para expandir a linha lateralmente. Um dos rumores, inclusive, é a respeito de uma versão mais amigável a desportos de alto impacto, que alguns analistas apostam que terá um design retilíneo semelhante ao iPhone, para favorecer a durabilidade. E o software corrobora este rumor. Há quem aposte que parte das novidades anunciadas para o watchOS 9 na WWDC foram pensadas justamente para este modelo, apesar delas beneficiarem todos os outros utilizadores como consequência.

Mas quanto mais eu olho para o Apple Watch, mais as atualizações anuais parecem-me fruto da regra não-escrita do mercado de tecnologia que diz que todos os produtos precisam, obrigatoriamente, de serem atualizados todos os anos, senão… bem, senão eu não sei o que aconteceria. Wall Street entraria em desespero? Talvez. Não seria a primeira (e nem a última) vez que as expectativas dos acionistas dirigiriam decisões estratégicas na Apple. Facto é que se o próximo Apple Watch vier, sem grandes novidades pelo segundo ano consecutivo, arrisco a dizer que essa possa ser a última vez que o produto é atualizado anualmente. E não há nada de errado com isso. Talvez o sucesso do Apple Watch esteja justamente por ele já ser completo e competente o suficiente para o que se propõe a fazer, algo que nem mesmo o iPhone conquistou num tão curto intervalo de tempo.