Apple: o antes e o depois de Steve Jobs. O que mudou?

Apple: o antes e o depois de Steve Jobs. O que mudou?

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A 5 de outubro de 2011, aos 56 anos, partiu uma das figuras mais proeminentes e carismáticas do universo tecnológico. A morte de Steve Jobs teve um forte impacto nas opiniões de muitos acerca do futuro da empresa fundada e liderada por ele. Uma fração significativa desses muitos, aos quais os vou designar de "profetas da desgraça", afirmaram a pés juntos que a Apple entraria numa espiral negativa e que, sem Steve Jobs, a empresa não tinha futuro, que seria a próxima Blackberry ou a próxima Nokia, que não demoraria a desmoronar-se, e quiçá, até iria à falência. Não poderiam estar mais errados! Eventualmente, algum dia esses "profetas da desgraça" irão acertar. Talvez daqui a cem anos a Apple já tenha ido à falência.

Antes de partir, Jobs assegurou-se de colocar Tim Cook aos comandos da Apple, e foi mesmo sob a liderança executiva de Cook que a gigante tecnológica americana se tornou a primeira empresa privada dos EUA e do mundo a atingir um valor absurdo de mercado de 1 trilião de dólares (agosto de 2018), 2 triliões de dólares (agosto de 2020) e 3 triliões de dólares (janeiro de 2022). Vamos ver quanto tempo irá demorar até chegar aos 4 triliões de dólares. Mas apesar destes valores colossais, houve um custo associado. A Apple passou por uma transformação significativa na última década perante a ausência de Steve Jobs, que deixou para trás um legado de inovação.

Durante esse período de transformação, algumas mudanças foram erigidas mediante a filosofia e planos originais de Steve Jobs. No entanto, outras decisões que a Apple tomou, foram completamente opostas ao que Steve Jobs pretendia fazer. Mas quais as mudanças mais significativas no alinhamento de produtos e como elas contribuíram para um crescimento exponencial da empresa?

A Apple lançou iPhones com ecrãs maiores

Em 2012, a Apple introduziu no mercado o iPhone 5 com um ecrã de 4 polegadas. Foi um pequeno passo acima do tamanho de 3,5 polegadas, ao qual os utilizadores de iPhone estavam habituados, eu incluído, com um iPhone 4 adquirido em 2010. Esse crescimento no tamanho do ecrã permitiu a adição de uma linha adicional de aplicações. Esta foi a primeira vez que o iPhone cresceu, mas ainda assim, era pequeno quando comparado com outros smartphones Android da época.

Steve Jobs não era fã de ecrãs grandes, tanto que ele chegou a afirmar "de peito feito" que ninguém compraria um iPhone com ecrã maior. Apesar da posição vincada de Jobs, a Apple decidiu ir noutra direção e o mercado respondeu muito positivamente. Foi uma decisão certa por parte dos executivos da Apple. iPhones maiores como as versões Plus e Pro Max entregam aos seus utilizadores uma experiência de utilização muito mais fácil e intuitiva e sem esforçar os olhos.

Este é um dos poucos casos em que Steve Jobs estava errado. Um iPhone compacto era suficiente para a época, mas não permitia uma experiência confortável de digitação e visualização. Com o aumento de funcionalidades embutidas no iPhone, era imperativo o aumento do ecrã.

A ascensão dos chips Apple

Em 2020, a Apple anunciou que iria abandonar a arquitetura Intel e que gradualmente iria transitar para os seus chips de fabrico próprio, baseados na arquitetura ARM, designados como Apple Silicon. Essa mudança estava de acordo com a filosofia de Steve Jobs em entregar aos utilizadores um produto completamente projetado pela Apple. Esses chips, que incluem os M1 e M2 e assim sucessivamente, são encontrados nos iMacs, MacBooks e até iPads mais recentes. Essa mudança permite à Apple um controlo muito mais rigoroso e apertado sobre o hardware e software, permitindo uma melhor otimização e performance dos produtos.

Os chips da Apple combinam CPU (unidade de processamento central), GPU (unidade de processamento gráfico) e a memória RAM num único SoC (System-on-a-chip). Como resultado, eles são uma evolução bem significativa quando comparados com os processadores da concorrência, a saber, a Intel e AMD. Com efeito, os Apple Silicon proporcionam um elevado desempenho multi-core, aliado a uma eficiência energética sem igual na concorrência. Na esmagadora maioria das vezes, os Apple Silicon entregam um desempenho superior aos melhores processadores dos seus concorrentes Intel e AMD.

Os AirPods traçaram o futuro dos fones sem fio

Outro produto que foi desenvolvido de acordo com os moldes de Steve Jobs, foram os AirPods. Já em 2007, Jobs tinha lançado um fone de ouvido Bluetooth para o iPhone original, mas foi descontinuado em 2009, devido às fracas vendas.

Mas em 2016, a Apple reinventou o conceito e apresentou ao mundo os AirPods originais ao lado do iPhone 7. A Apple removeu a porta Jack 3,5 mm, e ficava evidente que uns fones sem fio seriam necessários.

A simbiose perfeita ao emparelhar os AirPods com o iPhone caíram nas boas graças dos utilizadores, e a demanda por este novo produto superou em muito as expectativas da Apple. Outras empresas não ficaram a dormir e conseguiram entregar produtos semelhantes com qualidade de áudio e outros recursos iguais, mas já era tarde. De acordo com algumas empresas de estatísticas e pesquisa de mercado, a Apple domina o mercado mundial de fones de ouvido.

O nascer atribulado do Apple Watch

O Apple Watch original foi lançado logo após a morte do génio Jobs. E o seu percurso inicial não foi fácil, em virtude do ceticismo criado devido a problemas com a duração da bateria e desempenho. Era difícil justificar a sua relação custo-benefício e para a maioria dos utilizadores, era um produto caro, para aquilo que conseguia entregar. Oito gerações depois, a evolução foi de tal ordem, que o relógio inteligente da Apple transformou o mundo da saúde e é o líder destacado na industria de smartwatches.

Atualmente, os recursos mais notáveis do Apple Watch incluem o rastreamento de exercícios físicos, eletrocardiograma, monitorização da frequência cardíaca, deteção de acidentes de carro e deteção de quedas. Também contribui para a saúde feminina, oferecendo um oxímetro para medir o nível de oxigénio no sangue para prever a ovulação e deteção de temperatura corporal. Um verdadeiro caso de sucesso, na era pós-Jobs!

Quem quer uma caneta?

Jobs ficou conhecido por ser um opositor ao uso de canetas. A sua icónica pergunta revela claramente isso - “Who wants a stylus?" Apesar disso, a verdade é que o Apple Pencil provou ser uma poderosa e inovadora ferramenta de anotações, esboços e design. Quando emparelhado com o Apple Pencil, o iPad é transformado numa poderosa máquina de trabalho para criadores de conteúdo, criativos, artistas e designers digitais.

Lançado em 2015, o Apple Pencil revolucionou o mercado de canetas com o seu design exclusivo encaixando-se na mão de uma forma tão natural como um lápis convencional. Ao contrário de outras canetas com borracha capacitiva na ponta, o Apple Pencil depende de uma rede de transmissores para detetar a pressão e a posição. Como resultado, o Apple Pencil é muito preciso e intuitivo.

iPod, uma relíquia do passado

Os iPods foram uma peça chave para a transformação da indústria de eletrónicos e da indústria do entretenimento musical. Com a descontinuação do iPod, chegou o fim de uma era revolucionaria e transformadora, que além de ser uma inspiração para produtos de outras empresas, também serviu de base em futuros produtos da Apple, como o iPhone, iPad e AirPods. Foi com o iPod que Jobs conseguiu retirar a Apple da iminente falência para aquilo que ela é hoje.

Apesar disso, as vendas do iPod estavam em declínio, devido à introdução no mercado do iPhone e iPad. Mas o iPod Touch ainda era apreciado por muitos utilizadores, pois era como se fosse um iPhone, mas sem cartão de uma operadora. Antes da sua morte, Steve Jobs planeou quatro anos de produtos Apple com antecedência, incluindo versões mais recentes do iPod que acabariam por ser lançadas. Mas com o tempo, não fazia sentido a existência do iPod, tendo em conta a existência do iPhone que já preenchia essa lacuna. Jobs provavelmente também iria descontinuar o iPod.

Jony Ive diz adeus à Apple

Sir Jonathan Ive, trabalhou quase três décadas na Apple contribuindo para os designs mais significativos e emblemáticos da empresa. O designer britânico, deixou o Reino Unido em 1992 rumo à Califórnia, EUA para trabalhar na Apple. Porém, em 2019, Ive decidiu deixar a Apple e seguir o seu próprio rumo. Para quem estava familiarizado com a hierarquia dentro da empresa, viu a saída de Ive com enorme surpresa.

Jony Ive à esquerda e o atual CEO da Apple Tim Cook à direita. Foto de Justin Sullivan/Getty Images

Mas tendo em conta que a filosofia e cultura dentro da Apple tinham mudado com a morte de Steve Jobs, a sua saída era inevitável. Jony Ive estava habituado a trabalhar com uma abordagem autocrática, mas prática e eficaz de Steve Jobs, ao passo que Tim Cook apresenta uma forma de trabalhar num estilo mais democrático e independente. Eventualmente não tão prático e eficaz, mas que não se coadunava com o modo de trabalhar de Jonathan Ive.

Um exemplo disso foi durante o desenvolvimento do Apple Watch. A visão de Cook era mais centrada na saúde e bem-estar. Tudo aponta para que Ive tenha ficado para trás e tenha se esgotado emocionalmente com essas mudanças. Seja como for, Jony Ive será sempre lembrado como a mente criativa por detrás da Apple. Ainda assim, há críticos que acreditam que ele poderia ter sido uma barreira para os avanços efetuados por Tim Cook.

Um avanço ou retrocesso para a Apple?

Apesar de Steve jobs já ter falecido há mais de 10 anos, não há como negar que a Apple fez progressos significativos. Apresentou vários produtos que se destacam da concorrência e mais estão a caminho. Vários rumores dão como certa a chegada de um headset de AR/VR ainda este ano. Outro rumor não tão certo, é o envolvimento da gigante tecnológica americana na industria automóvel com o alegado Apple Car. Ainda que muitos discordem, a inovação ainda é um dos pilares basilares da Apple.

Não há como saber como Steve Jobs comandaria a empresa caso ainda estivesse vivo. Mas é óbvio que Tim Cook tem uma visão e um caminho claro a traçar aos comandos da Apple - de como garantir que o negócio continue em expansão. E a verdade é que sob a gestão executiva de Cook, a Apple tem se saído muito bem em termos de receita. Se ela continuará no topo durante muito ou pouco tempo, somente o tempo o dirá.

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