Palmer, um dos mais recentes filmes do ator e cineasta Fisher Stevens, foi lançado no serviço de streaming Apple TV+ em janeiro deste ano, e acompanha a história de Eddie Palmer (Justin Timberlake), uma antiga estrela de futebol americano que regressa à cidade natal de Sylvain, Louisiana, após cumprir pena de 12 anos de prisão.
Neste drama convencional, Timberlake assume o papel de um ex-presidiário que sai em liberdade condicional para regressar a casa da sua avó Vivian, interpretada por June Squibb, que o criou desde adolescente. Embora o cantor, compositor e produtor não me suscite interesse com os seus trabalhos, ele entrega com Palmer uma prestação bastante coesa e interessante, provando ser capaz de estabelecer uma ponte entre a sua carreira musical e cinematográfica.
Timberlake oferece-nos um retrato autêntico, ainda que assente numa premissa clichê, do ex-presidiário com temperamento agressivo, à procura do seu espaço na sociedade e de uma possível reintegração. Embora sejamos guiados por várias cenas onde Palmer se reconecta aos amigos do passado e procura emprego, o argumento de Cheryl Guerriero não segue a direção que esperamos. Depois dos primeiros 15 minutos, apercebemo-nos que a longa-metragem é, na verdade, sobre como Palmer encontra um novo propósito quando se afeiçoa a um rapaz de sete anos que vive com a sua mãe drogada numa caravana ao lado da sua casa.
Esta ligação emocional entre ambos não se estabelece de imediato e os seus contornos só começam a ser desenhados no momento em que Palmer se apercebe da relação que Vivian tem com o filho da vizinha, tomando conta dele sempre que a mãe desaparece. O pequeno Sam, interpretado por Ryder Allen numa estreia cinematográfica absolutamente brilhante, funciona como um contraponto à índole do personagem de Timberlake. É que esta criança é extremamente frágil, doce, sensível e feminina, e sofre de bullying por gostar de maquilhar bonecas e participar em festas de chá imaginárias. Se quisermos, Sam é tudo o que Palmer não é ou tudo o que Palmer não conseguiu ser por ter estado preso durante 12 anos.
Talvez seja por esse motivo que, numa primeira fase, a relação dos dois causa estranheza a Palmer. À semelhança do que acontece com a comunidade conservadora de Sylvain, também ele tem dificuldade em aceitar a realidade de Sam. Porém, Palmer sabe como é ser visto como diferente e é com base na dor do preconceito e na discriminação que os dois personagens se encontram. É Sam que, por meio do afeto e de palavras de conforto, acolhe e reintegra Palmer, transformando o homem que, inicialmente, é caracterizado como durão e agressivo, num ser preocupado e convicto.
Infelizmente, Stevens e Guerriero refugiam-se num processo fílmico sem grandes pretensões e em cenas contidas para se focarem na relação que os dois estabelecem, sem nunca desenvolverem em profundidade os tópicos da fluidez de género ou da homofobia. Ainda que Palmer seja um convite dirigido ao espectador no sentido de repensar as estruturas sociais que nos fazem aceitar apenas como certo o sistema binário homem/mulher, sem interseção, e repensar a toxicidade a que os rapazes e homens são submetidos por conta de uma sociedade que exige deles o papel de alfa dominante, muito mais podia ter sido feito neste campo. O realizador e a argumentista mantiveram o apelo dramático ao longo do título, mas sem mergulharem em profundidade no problema da violência e do preconceito, acabando inclusive por suavizar determinadas situações e delegar a respetiva resolução para o off camera.
Palmer é um filme que segue uma fórmula genérica, mas que entrega uma história honesta e educacional e uma narrativa repleta de mensagens significativas. Apesar de retratar uma realidade de forma simplista e direta, o título abre caminho para a excelente atuação dos dois atores principais. No caso de Justin Timberlake, o seu desempenho é mensurado na evolução que o personagem realiza no decorrer da trama, ao mudar da posição de ex-presidiário sem futuro para o homem que não olha a meios quando tem de proteger uma criança mais perdida do que ele. Já Ryder, sendo um ator bastante jovem, consegue com a sua postura dócil e sensível, apelar à compaixão e emoção do espectador.
Palmer está disponível no serviço de streaming Apple TV+.
Nota: 7/10
Palmer (Palmer - EUA, 29 de janeiro de 2021)
Duração: 110 min
Género: Drama
Realização: Fisher Stevens
Argumento: Cheryl Guerriero
Elenco: Justin Timberlake, Ryder Allen, Juno Temple, Alisha Wainwright, June Squibb, Dean Winters, Wynn Everett, Jesse C. Boyd, Charmin Lee, Jake Brennan, J.D. Evermore, Stephen Louis Grush, Lance E. Nichols, Stacie Davis, Carson Minniear, Theodus Crane, Hero Hunter, Nicholas X. Parsons, Suzette Lange, Ray Gaspard
Deixa o teu comentário